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26 de Abril de 2024
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    Tout va très bien dans le monde juridique

    Publicado por Consultor Jurídico
    há 11 anos

    A canção francesa e o título da coluna

    De pronto, antes que venham críticas xenófobas, explico: li por estes dias o livro de Alan Riding, Paris, a Festa Continuou, que trata da vida cultural de Paris durante a ocupação nazista. Há uma bela passagem, que fala de uma canção popular do ano de 1936, interpretada por Ray Ventura, chamada Tout va très bien, Madame La Marquise (tudo vai bem, Madame La Marquise). A canção denunciava o que a França fingia não ver: o cataclismo que se aproximava. Na canção, os empregados de uma aristocrata continuavam a assegurar-lhe de que tudo estava bem, embora um incêndio tomara conta de seu castelo, destruindo os estábulos e matando a sua égua favorita. Além disso, o marido de Madame cometera suicídio, mas, ainda assim, não havia com que se preocupar, porque tout va très bien, Madame La Marquise. Na paródia que fiz do título da música de Ray Ventura, tudo vai muito bem no mundo jurídico. Como o famoso corsário, afundando e atirando, afundando e atirando! Também há o filme italiano Stanno tutti bene (1990), com Marcelo Mastroianni (os filhos estavam todos bem: por exemplo, o que era maestro, na verdade apenas tocava um tambor!).

    O que quero fazer? Simples. Penso que é possível fazer uma alegoria da canção e da situação nela apresentada com a questão dos concursos públicos, a crise do ensino jurídico e a crise da operacionalidade do sistema jurídico mormente quando os jornais e sites jurídicos noticiam que 89,7% dos bacharéis chumbaram no exame da OAB (leia aqui). Embora tudo isso, a comunidade jurídica continua cantando que tudo vai bem, Madame Dogmática Jurídica e Mounsier Ensino Jurídico. E o filho maestro toca apenas um tamborzinho...

    Automa (ta)ção do ensino

    Tudo vai bem? É? Pois é. Pelo jeito, sim, porque a indústria que mais cresce é a dos compêndios e manuais simplificados-simplificadores. Embora o alto índice de chumbamento nos exames de Ordem e nos concursos, estes vão de vento em popa. Como um fordismo jurídico, tudo é feito em série, repetitivo, automatando (e auto-matando) o ensino e a sua operacionalização.

    Já denunciei tudo isso à saciedade e à sociedade. Mas, por amor à ciência jurídica, não me canso. Parece não haver limites nesse processo de estandardização. Portanto, um índice de chumbamento de 89,3% não aparece do nada. Nem o alto índice de reclamações sobre o caráter de quiz show das questões dos concursos públicos em geral.

    O elemento simbólico disso pode ser visto a partir de simples acesso à internet. Na rede pode ser visto um sujeito ensinando Direito Constitucional na melodia de atirei um pau no gato. Sim, é verdade. Fora outro (a) que ensina direito com músicas da Xuxa. Além disso, e nem sei se é o mesmo do atirei o pau no gato, há também como aprender sobre agências reguladoras por melodia dos Mamonas Assassinas. Pior, e aqui está o busílis da crise do Direito, se você prestar atenção, o que o professor está ensinando é, esculpido em carrara, nada mais, nada menos que o texto da lei, dos Códigos, da Constituição. É para de-co-rar. É escandaloso. Se isso acontecesse na área da Medicina ou da Física Nuclear, todos diriam: acabou a medicina; seremos todos vitimados pela primeira gripe ou infecção; os médicos estão estroinando com Hipócrates, a Física Nuclear virou Educação Física e estão fazendo prova de natação oral. Mas, como é no Direito, tout va très bien... a malta acha bonito.

    Impunidade significativa

    Vivemos em uma impunidade semântico-significativa. É talvez a pior das impunid...

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