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25 de Abril de 2024

O protótipo do estudante de direito ideal e o “fator olheiras”

Publicado por Consultor Jurídico
há 10 anos

O estudante de direito Edilson Silva do Nascimento (Faculdades Integradas de Aracruz-ES), do segundo período, mandou-me e-mail, instando-me a escrever sobre como seria o “acadêmico de direito ideal” ou o que seria um ensino jurídico adequado nestes tempos bicudos de pauperização do conhecimento. Contou que muitos de seus colegas preferem brincar no facebook ou no smartfone em vez de prestarem atenção ao que o professor fala. O que fazer? E como deve ser uma aula, pergunta. Os alunos devem ser submetidos a um regime tal qual o contado no livro de Scott Turrow, O Primeiro Ano, em que relata como tinha de estudar e pesquisar?

Quanto à essa pós-modernidade, digo que, em minhas aulas (mestrado e doutorado) não admito — a não ser sob meu comando — a utilização, concomitante às minhas falas e aos seminários dos alunos, o uso dos instrumentos pós-chatos. Isso é para início de conversa. Se não é por outra coisa, trata-se de respeito ao espaço da sala de aula. Quer telefonar ou ver msn? Sai da aula.

Mas este é apenas um dos problemas. O ensino jurídico não vai mal porque os alunos ficam grudados no feicibuqui. Também por isso. Mas vai mal porque não há pedagogia sem dor. Não há intelectual bronzeado (é uma metáfora). Nem intelectuais-periguetes (os e as). No Direito, “pireguetear” não é preciso (apesar da paráfrase, permaneço aqui no nível apofântico — e a palavra “preciso” deve ser entendida em sua ambiguidade). E, fundamentalmente, não há a mínima possibilidade de avançarmos na melhoria do ensino jurídico enquanto a literatura utilizada for composta por um produto pret-à-porter, pret-à-parler e pret-à-penser.

Se a medicina for ensinada com livros “facilitados” como no direito, a ciência hipocrática vai morro abaixo. Espero, sinceramente, que os esculápios terra brasiliensis tenham uma formação melhor na graduação que nossos bacharéis em direito. Para exercitar minha LEER, pergunto (de novo): quem se operaria com um esculápio que tivesse escrito um livro com o título de “Operação cardíaca facilitada” ou “A fibrilação atrial em palavras cruzadas”? Ou quem se submeteria a tratamento com esculápios que tivessem estudado com professores que utilizaram livros tipo resumo-do-resumo?

Rafael Tomaz de Oliveira escreveu recentemente coluna (ler aqui) falando sobre o dilema dos livros mínimos que o aluno deve ler ou que o professor deve cobrar na faculdade de Direito. Não vou, aqui, delinear os livros que deveriam ser utilizados. Mas, por favor: hoje há professores de direito civil que não conhecem a história do direito civil alemão ou o brasileiro... Já fiz testes sobre isso, perguntando aquando surgiu — stricto sensu — o direito de propriedade em terrae brasilis. Aliás: o leitor sabe? E qual a diferença entre o tratamento da posse e da propriedade no século XIX em relação ao Código de 1916? No que isso influenciou a questão da terra?

Os alunos sabem como funcionava o controle de constitucionalidade no Império? Os alunos leram a Teoria Pura do Direito? Sabem que Kelsen não separou o direito da moral? Se seu professor diz que Kelsen separou o direito da moral, fuja enquanto é tempo. Se o seu professor de Introdução ou filosofia do direito não sabe o que é neopositivismo lógico e sua importância para a construção...

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6 Comentários

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Olha, estou no primeiro período de direito e faço estágio há quase um ano e a minha sensação é: não sei nada, estou longe de saber e não sei se aqui (na sala de aula) é realmente o lugar onde irei aprender. Fico contente por encontrar o seu texto e também mais preocupada, porque, ainda, não sei responder suas perguntas. Quem sabe um dia e que seja logo menos. Abraços e sucesso! continuar lendo

Evelyn, sou formado em Direito e digo que essa sensação é comum, especialmente para quem está no começo do curso. Você mesma disse que está no primeiro período de faculdade, então ainda terá muito pela frente, praticamente o curso inteiro. Tenho certeza que em algum momento você vai se encontrar. Desejo sucesso. continuar lendo

Uma pergunta. Você acha que o estágio ajuda de fato na formação do estudante ou este deveria, caso pudesse, apenas estudar? Desculpe pela pergunta um pouco fora do tema mas é que isso, agora, é um dos meus maiores dilemas. Abraços. continuar lendo

Pífios pífaros!

Exacerbando na grafia.

Toda essa "foronomia" literária é um luxo só. continuar lendo

Concordo com o texto, mas acho que devemos ser ponderados em alguns aspectos.
A "Teoria Pura do Direiro", por exemplo, é um livro impossível de ser lido no primeiro semestre.
Os "simplificados", "facilitados" e "esquematizados" podem ser muito úteis, se usados com sabedoria. Se lidos como material introdutório para conhecimento dos princípios e conceitos mais básicos da matéria, são de grande valia.
Após tal contato inicial, o aprofundamento na matéria é imprescindível.
O que não pode acontecer, ou melhor, não poderia, porque infelizmente já acontece, é serem tomados com as pedras angulares das disciplinas. continuar lendo