Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
27 de Abril de 2024
    Adicione tópicos

    Colegas de Márcio Thomaz Bastos relembram carreira do criminalista

    Publicado por Consultor Jurídico
    há 9 anos

    Homenagens post mortem, em geral, são sombrias e, não raro, artificiais e burocráticas. Dificilmente captam a complexidade da existência que se pretende reverenciar. No dia 20 de novembro passado, morreu, aos 79 anos, o advogado Márcio Thomaz Bastos. Para celebrar a carreira e a vida do grande brasileiro, este site convidou três dos muitos amigos de Márcio não só para exortar, mas para deixar registrada a dimensão humana e profissional desse símbolo da melhor face da advocacia brasileira.

    Arnaldo Malheiros Filho, Sônia Ráo e Manuel Alceu Affonso Ferreira lembraram boas histórias da sua convivência com o colega criminalista. Sem esconder a emoção e o inconformismo pela perda do amigo, eles falam das características que tornaram Márcio Thomaz Bastos um modelo de profissional a ser seguido. Principalmente pela tolerância e paciência.

    Analisam a transição da advocacia criminal da pessoa física para a pessoa jurídica nos últimos anos e enaltecem a capacidade do ex-ministro da Justiça e ex-presidente da OAB de trabalhar em equipe e apoiar novos talentos.

    Leia a primeira parte da entrevista, com os principais trechos da conversa:

    Márcio Chaer Como era sua convivência com Márcio Thomaz Bastos?
    Manuel Alceu Eu tinha com o Márcio uma convivência muito gostosa, porque ele era um dos poucos progressistas que ouvia minhas teses udenistas conservadoras sem me dar um soco. Foi essa convivência de contrários, que é um negócio bacana de se fazer. E essa convivência, o Arnaldo lembra disso, começou em 1983, um almoço que tínhamos todas as sextas-feiras no Ca´d’Oro. Era um almoço fiscalizado pelos outros comensais do restaurante, que era, enfim, só big shots. Então, tinha o Walter Moreira Salles, o Antonio Ermírio, o maître Ático passeando por ali, que era uma figura referencial. Está na ativa até hoje. E aí era o Mário Sérgio Duarte Garcia, o Márcio, o Michel Temer, o Cid Vieira de Souza, o Bigi, enfim, vários advogados que já tinham alguma expressão. Eu estava ali de peru. O Márcio era um progressista que conversava com um conservador sem fazer cara de pouco caso, o que não é comum.

    Arnaldo Malheiros — Eu acho que você colocou bem. Ele era um progressista. Não era, necessariamente, um esquerdista. Era progressista.

    Manuel Alceu Até pela prática da vida, ele não era um esquerdista, não era mesmo. Ele era um homem refinado em tudo. Era um aristocrata no comportamento. E isso me atraía muito. Toda vez que eu olhava para o Márcio eu o via em um tílburi com um cara atrás, um criado de libré trazendo um chicote. Eu acho que ele era mesmo um aristocrata.

    Sônia Ráo — Ele não se alterava nunca, era uma coisa impressionante.

    Arnaldo Malheiros Quando morreu o Valdir Trancoso Peres, descobriram um vídeo gravado de uma entrevista dele na televisão e um dos entrevistadores era o Márcio. Coisa dos anos 1970. E a Sônia dizia assim: “Márcio, como você parecia cafajeste. O óculos, o cabelo, a gravata...”

    Sônia Ráo — Mas era só na aparência.

    Manuel Alceu Agora, me contaram uma história que eu nunca presenciei: Márcio era antes de tudo um anticorintiano. Ele era são-paulino e o celular tocava o hino do São Paulo. Celular esse que ele não mudava, segundo uma vez me contou, porque o Paulo Lacerda disse a ele que a melhor forma de ser grampeado era trocar de celular toda hora.

    Sônia Ráo Eu diria que ele também era muito ruim de botão. Uma vez a gente estava com um gravador, normal, gravador daqueles antigos, eu e o Márcio na sala. Era uma coisa secreta, a gente não conseguiu ligar. Era só dar o Rec, não era nada complexo. Mas não conseguimos... (risos)

    Márcio Chaer — O escritório que vocês estavam era na Liberdade? E o Paulo José da Costa, era do escritório?
    Sônia Ráo Era. O Paulo José da Costa era dono do imóvel e vendeu para o Márcio.

    Manuel Alceu Agora, você acha que o Márcio era munheca?

    Sônia Ráo Ele falava, e eu acho que ele tinha razão, que ele com dinheiro era justo. Não era nem perdulário nem pão duro.

    Manuel Alceu É, Sônia, eu acho que era justo, porque nós temos um amigo em comum, muito amigo dele também, o Fernando Menezes. Eles andavam às 9h da manhã e, no Pinheiros, juntos, faziam uma caminhada lá. Depois comiam uma banana, tomavam um copo de água e um café e pagavam em dias alternados. Cada um pagava um dia. E houve um dia em que o Márcio encasquetou que ele é que tinha pago no dia anterior e não o Fernando, e tiveram uma discussão monumental sobre quem pagaria.

    Sônia Ráo Cabe na definição dele de que ele era absolutamente justo em relação a dinheiro.

    Arnaldo Malheiros O Márcio também sempre foi hipocondríaco. Ele mesmo dizia que sempre ia à farmácia para perguntar as novidades e na semana seguinte passava a sentir os sintomas que aqueles remédios curavam.

    Sônia Ráo Mas ele gostava mesmo de fazer exames. Como gostava de fazer exames. Se tivesse que fazer jejum antes, beber antes, comer antes, tudo que tivesse que fazer antes de preparação ele achava o máximo. Pedia para fazer. Na verdade ele nunca estava doente, ele estava sempre muito bem. O Márcio fazendo quimioterapia, e a gente tratava como se nada estivesse acontecendo. Não é Arnaldo?

    Arnaldo Malheiros O Riad (Naim Younes, cirurgião oncologista) operou o Márcio do pulmão e dizia que ele foi salvo pela hipocondria. Como ele fazia dois check-ups completos por ano ele pegou o câncer no pulmão em um estágio embrionário, inicial. E aí o Riad tirou meio pulmão dele, mandou para o anatomopatológico voltou e falou assim: “Caso encerrado.” Aí o Márcio falou: “Mas não preciso fazer químio?” Aí me contou e falou: “Vou pedir uma segunda opinião.” Eu falei: “Márcio, segunda opinião é quando o médico fala coisa ruim. Quando o médico fala coisa boa, basta.” Aí, imagina. O Ricardo Tepedino conta que o pai dele era médico no interior e uma vez a mãe levou uma criança que tomou um tombo, fez um galo, não abriu, nem saiu sangue. E ele receitou alguma coisa para o menino e ela falou: “Mas não precisa tomar antitetânica?” Aí diz que o pai dele respondeu: “Precisa porque você perguntou.” Então, foi isso: ele foi perguntar.

    Manuel Alceu Vocês não acham que o Márcio tinha muito de irônico? Ele me convidou para fazer parte do júri do Innovare, onde eu continuo até hoje. A primeira reunião foi no Copacabana Palace. Bons tempos, o Arnaldo é meu companheiro lá. O Márcio conta para o Roberto Irineu Marinho, presidente das organizações Globo, que eu era um fã de novela, que não perdia uma novela. E eu não tenho nem ideia do que seja uma novela. Aí o Roberto Marinho perguntou: “Qual é a novela que o senhor mais gosta?” Eu não tinha a menor ideia, mas não queria dizer também para não deixar o Márcio sem graça. Aí eu falei: essa que passa mais ou menos no horário do jantar. E ele era isso, era irônico ao extremo. E ele ficava com aquela cara, olhando, e lá dentro ele gozava a desgraça alheia.

    Arnaldo Malheiros Uma vez um promotor pediu a prisão preventiva de um cliente meu e de um cliente do Márcio. O juiz, um incauto, decretou a prisão dizendo que o pedido vinha amparado em mais de duas mil páginas de documentos, portanto os acusados tinham de ser presos. Nessas mais de duas mil páginas havia extratos bancários de investigados em outros casos. O cara usou para fazer volume e enganar o juiz. Mesmo assim perdemos o Habeas Corpus aqui por 2 a 1 e fomos para o STJ. E nessa história toda os caras ficaram foragidos por três ou quatro meses. O meu cliente, dizia a família, já estava pensando seriamente em se entregar, porque ele dizia que não aguentava mais aquela vida. Mas no dia de julgar no STJ nós saímos do hotel, o Márcio, meu então sócio Ricardo Camargo L...

    Ver notícia na íntegra em Consultor Jurídico

    • Sobre o autorPublicação independente sobre direito e justiça
    • Publicações119348
    • Seguidores10991
    Detalhes da publicação
    • Tipo do documentoNotícia
    • Visualizações53
    De onde vêm as informações do Jusbrasil?
    Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/colegas-de-marcio-thomaz-bastos-relembram-carreira-do-criminalista/159453284

    0 Comentários

    Faça um comentário construtivo para esse documento.

    Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)